Esta reflexão é realizada no âmbito da unidade curricular Educação e Sociedade em Rede, do mestrado em Pedagogia do eLearning, da Universidade Aberta.
Tendo como ponto de partida os conceitos de cibercultura, sociedade em rede, refletem-se as questões de identidade digital, autenticidade e transparência nestas novas relações sociais em rede que se desenvolvem, em particular na educação.
Contemporaneamente vivemos em tempos acelerados de mudanças. Estas mudanças devem-se, essencialmente, à rápida e frenética a evolução das tecnologias de comunicação e informação.
Como nos aponta Lagoa (2016), o ritmo de transformação tem sido cada vez mais intenso ao longo dos séculos. O autor destaca a imprensa que surgiu no século XV, com Gutemberg, considerando que a sua invenção e difusão permitiu o acesso à informação a milhões de pessoas, estabelecendo um marco à maior democratização no acesso à informação e ao conhecimento.
O mesmo autor aponta ainda, já no século XX o aparecimento da rádio e da televisão como tecnologias transformadoras e, ainda mais, aceleradoras do acesso ao conhecimento.
No seguimento da rádio e da televisão, o surgimentos dos computadores e da internet dilataram, sem precedentes, os meios de informação e comunicação em massas. Desde o início do século XXI, a internet e os telemóveis têm-se vulgarizado e, consequentemente, tornando-se cada vez mais acessíveis à população mundial.
Deste modo, com a rápida evolução dos meios de comunicação, as relações estabelecidas entre as pessoas, tradicionalmente vivenciadas num mesmo espaço geográfico, num mesmo local, num mesmo território, adquirem outras dinâmicas.
O tradicional espaço geográfico, onde se socializa e se gera cultura, concorre com um novo “espaço”, cada vez mais afluído, também propicio à socialização e à “produção” de cultura. Este “espaço” designado por diversos autores como “ciberespaço”, funciona para Lévy (1999) como um mecanismo de comunicação interativo e comunitário que se materializa como inteligência coletiva. Neste sentido, para o autor, o ciberespaço transforma as formas de socialização, bem como os modos com que as pessoas adquirem e transmitem o saber. A interatividade permitida no ciberespaço é percecionada por Lévy (1999, p. 82) como potencializadora de inteligência coletiva e, como tal, transformadora de uma nova realidade.
Deste modo, o ciberespaço alterou profundamente o modo como as pessoas estabelecem relações entre si, como está na origem de novas formas de socialização e, consequentemente à cibercultura que, para Lévy (1999, p. 247), expressa uma transformação fundamental da própria essência da cultura.
Do mesmo modo que a sociedade vivenciada num mundo físico aporta exigências de cidadania a cada individuo, a sociedade em rede traz consigo novas exigências aos indivíduos no exercício de uma cidadania digital e, por acréscimo, a uma identidade digital.
Como nos refere Lagoa (2016, p.33)
Todos os indivíduos vivem diferentes circunstâncias e experienciam diferentes histórias de vida. A identidade pessoal, o Eu, é o conjunto de caraterísticas que representam o indivíduo na sua relação social.
O mesmo autor, citando Ficher (1996), aponta para duas caraterísticas do “Eu” a autoestima e a autoconsciência. A autoestima, como a autoapreciação de cada individuo em relação aos outros e, a autoconsciência como a consciência da consciência, ou seja, a ação identitário que cada um toma consciência de si mesmo.
Ao longo dos tempos as sociedades e as instituições administradoras que as compõem criaram mecanismos e instrumentos para garantir a autenticidade e transparência da identidade. Em Portugal, em diversos domínios, cartão de cidadão, passaporte, cartão fiscal, eleitoral, de estudante, de segurança social, …, impressão digital, registo dentário, entre outros, são instrumentos e mecanismos que existem para assegurar a autenticidade de cada individual. Na sociedade, cada cidadão é remetido a um vasta exigência de critérios de verificam e atestam a sua identidade.
E na sociedade em rede? Num espaço sem coordenadas! Como se verifica e atesta a identidade?
No ensino presencial o professor tem mecanismos para verificar a identidade do estudante na avaliação de aprendizagem! E no ensino a distância? E no ensino online?
Como evitar o plágio ou cópia e a fraude de identidade no ensino a distância? Como garantir existiu aprendizagem e assegurar a credibilidade das instituições?
Assegurar, na sociedade em rede, a autenticidade e a transparência na rede remete-nos para o conceito de identidade digital e, concludentemente, para o conceito de cidadania digital. Identidade digital na qual para Lagoa (2016), os mecanismos e instrumentos, a privacidade dos dados e a segurança online que não estão, de modo algum, adquiridos. Assim o autor identifica a “A Identidade Virtual e a Autenticidade e Transparência no Ciberespaço” como questões fundamentais de reflexão, em particular no campo de ação do ensino online.
A identificação e a autenticação devem ser diferenciadas, como nos aponta Lagoa (2016) a identificação passa pela afirmação do “eu”, já a autenticação revela-se como a demonstração da veracidade do “eu”. Ou seja, a autenticação é a comprovação da identidade. Deste modo podemos afirmar que a transparência, ou o seu grau, é mais evidente, quanto maior for a aproximação da identidade à autenticidade, do “eu” que me apresento e do “eu” que realmente sou.
Elaborado pelo Próprio
Assim, podemos percecionar a transparência de acordo com a aproximação da identidade à autenticidade.
Os modelos de ensino tradicional, com séculos de existência e experiência, enfrentam desafios para garantir a transparência, mesmo presencialmente, já os modelos de ensino online, mais recentes e não presencial enfrentam ainda mais desafios. Como nos aponta Lagoa (2016, p. 100)
O crescimento exponencial do ensino online tem levantado consistentemente a problemática da avaliação desses cursos, face às exigências naturais de autenticidade e verdade.
Referências:
Lagoa, M. (2016). Autenticidade na rede: estudo da identidade digital. Tese de Mestrado. Lisboa. Universidade Aberta.
https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/5574/1/TMPEL_AntonioLagoa.pdf
Lévy, P. (199). Cibercultura. Instituto Piaget.
Meneses, M. (2008). Velocidade, acidente e memória.
http://z3950.crb.ucp.pt/Biblioteca/GestaoDesenv/GD15_16/gestaodesenvolvimento15_16_69.pdf
Teixeira, A. (2010). Autenticidade e transparência na rede – reinventando o debate sobre o outro que eu também sou.
https://pt2.slideshare.net/MPeL/my-m-pelantonioteixeira
Este blog corresponde à partilha de aprendizagens realizadas no âmbito do Mestrado em Pedagogia do eLearning da Universidade Aberta. Filipe Couto
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
A VIRTUALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS - AUTENTICIDADE E TRANSPARÊNCIA
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