Pierre Lévy, de
nacionalidade francesa, é um filosofo, sociólogo e investigador na área das
ciências da informação e da comunicação, cujo pensamento marca de modo determinante
a contemporaneidade. O autor efetua uma neologia e dá sentido à palavra cibercultura.
Antes de se
procurar comentar a noção cibercultura, definida por Lévy, é
imperativo clarificar a noção de ciberespaço proposta pelo autor.
Para Lévy (1999) o ciberespaço funciona como um mecanismo de
comunicação interativo e comunitário que se materializa como inteligência
coletiva. Neste sentido, para o autor, o ciberespaço transforma as formas de
socialização, bem como os modos com que as pessoas adquirem e transmitem o
saber. A interatividade permitida no ciberespaço é percecionada
por Lévy (1999, p. 82) como potencializadora de inteligência coletiva e, como
tal, transformadora de uma nova realidade.
Interpreto que a
ideia de espaço, contida em ciberespaço, procura
para Lévy extrapolar duas noções principais: território, composto por
indivíduos que partilham o mesmo espaço físico; e comunidade, composta
por indivíduos que, partilhando o mesmo espaço físico ou não, partilham aspetos
em comum. Deste modo identifico o espaço proposto pelo autor como
o locus onde, obrigatoriamente, existem indivíduos. A condição de ciber
fornece ao ciberespaço uma imensa possibilidade de comunicações
em rede, permitida pela interconexão mundial dos computadores, das memórias que
os compõem, bem como os diversos sistemas de comunicação eletrónicos
disponíveis na atualidade. (Lévy, 1999,
p. 102).
O mundo digital
faz parte da realidade para Lévy, com aspetos físicos como os computadores, a
sua própria memória, os seus respetivos periféricos e as pessoas que os
utilizam. O que não é material, o que é virtual é a significação. Significação
que presente na nossa mente se e inicia com a linguagem (Fronteiras do
Pensamento, 2013)
Para Levy, a cibercultura
é consequência do ciberespaço …
[Antes de explorar a noção de cibercultura, abro este parênteses
para dialogarmos com a noção de cultura. De um modo simplista, a cultura
é produto das relações que os indivíduos de um
território ou de uma comunidade estabelecem entre si. Até ao aparecimento do ciberespaço,
as relações que as pessoas estabeleciam entre si, a socialização, estavam de um
modo geral circunscritas ao território-espaço que as pessoas ocupavam. Assim, a
cultura era, quase exclusivamente, resultado dos territórios e das
comunidades, através dos processos de socialização estabelecidos pelas pessoas que
faziam parte desses espaços.
De certa forma poderíamos, desde já, questionar-nos: Então a cibercultura
não é nem mais, nem menos, do que a cultura produzida no ciberespaço?
Responder “sim” ou “não” seria desconsiderar todo o processo e produto que
distingue a cibercultura de, sem deixar de ser, cultura.]
Como vínhamos a
refletir, para Levy, a cibercultura é consequência do ciberespaço… …que não só alterou profundamente o modo
como as pessoas estabelecem relações entre si, como está na origem de novas
formas de socialização. Deste modo o autor 1999, p. 23) esclarece que a cibercultura
é distinguida pelo conjunto de técnicas materiais e intelectuais, de
experiências, de atitudes, de valores, de modos de pensar e de valores que se
desenvolvem simultaneamente com o “aumento” do ciberespaço.
É a participação
no ciberespaço que liga as pessoas umas às outras, como refere Lévy (1999, p.
119) liga as comunidades umas às outras e a si mesmas, elimina monopólios de
difusão e permite que cada pessoa transmita a quem estiver envolvido ou
interessado, originando um novo tipo socialização. Nesse sentido, a cibercultura
expressa para Lévy (1999, p. 247) uma transformação fundamental da
própria essência da cultura.
São diversos os exemplos de cibercultura que fazem cada vez mais parte do quotidiano de grande parte da população muldial. Destaco 3 exemplos que considero estarem em desenvolvimento exponencial:
- As redes sociais como o facebook, o twitter, o Instagram, LinkedIn, o Google+, que com um crescente contínuo nos últimos anos, fazem parte do dia a dia das pessoas. Nas redes sociais as pessoas socializam de diversas formas, sem que seja necessário estarem no mesmo espaço físico.
- As comunidades de aprendizagem online que florescente cada vez mais.
- Os jogos online, que fazem parte do entretenimento de cada vez mais jovens e adultos.
A área da
educação é também refletida por Lévy, que aponta os futuros sistemas de
educação e de formação na cibercultura devem ser refletivos numa “análise prévia
da mutação contemporânea da relação com o saber” (1999, p. 157). O autor (1999, p. 172) considera que a
utilização exponencial das tecnologias digitais e das redes de comunicação
interativa provoca e aumenta uma enorme e rápida mutação na relação com o
saber. Todas as possibilidades emergentes
no ciberespaço, como a aprendizagem cooperativa, a colaboração em
rede e a criação coletiva exigem uma (re)configuração no funcionamento das
instituições e os modos habituais de divisão do trabalho das escolas. Com
sentido ético, Lévy apela ao acompanhamento consciente da utilização das
tecnologias neste processo de (re)configuração, num processo em que os papéis
de alunos e professores são colocados à prova.
Neste sentido e como nos aponta Lévy (1999, p. 246) a cibercultura apresenta-se como uma
solução parcial para apoiar muitos desafios, no entanto constitui em si mesma
um enorme campo de desafios e de conflitos a nível global.
Referências:
Lévy, P. (1999). Cibercultura.
Editora 34.
Fronteiras do Pensamento. (2013, 5 de maio). Pierre Lévy - O
que é o virtual?. [Video]. YouTube.https://www.youtube.com/watch?v=sMyokl6YJ5U&feature=youtu.be
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