quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Reflexão sobre a noção de cibercultura proposta por Pierre Lévy

 

Pierre Lévy, de nacionalidade francesa, é um filosofo, sociólogo e investigador na área das ciências da informação e da comunicação, cujo pensamento marca de modo determinante a contemporaneidade. O autor efetua uma neologia e dá sentido à palavra cibercultura.

Antes de se procurar comentar a noção cibercultura, definida por Lévy, é imperativo clarificar a noção de ciberespaço proposta pelo autor. Para Lévy (1999) o ciberespaço funciona como um mecanismo de comunicação interativo e comunitário que se materializa como inteligência coletiva. Neste sentido, para o autor, o ciberespaço transforma as formas de socialização, bem como os modos com que as pessoas adquirem e transmitem o saber. A interatividade permitida no ciberespaço é percecionada por Lévy (1999, p. 82) como potencializadora de inteligência coletiva e, como tal, transformadora de uma nova realidade.

Interpreto que a ideia de espaço, contida em ciberespaço, procura para Lévy extrapolar duas noções principais: território, composto por indivíduos que partilham o mesmo espaço físico; e comunidade, composta por indivíduos que, partilhando o mesmo espaço físico ou não, partilham aspetos em comum. Deste modo identifico o espaço proposto pelo autor como o locus onde, obrigatoriamente, existem indivíduos. A condição de ciber fornece ao ciberespaço uma imensa possibilidade de comunicações em rede, permitida pela interconexão mundial dos computadores, das memórias que os compõem, bem como os diversos sistemas de comunicação eletrónicos disponíveis na atualidade.  (Lévy, 1999, p. 102).

O mundo digital faz parte da realidade para Lévy, com aspetos físicos como os computadores, a sua própria memória, os seus respetivos periféricos e as pessoas que os utilizam. O que não é material, o que é virtual é a significação. Significação que presente na nossa mente se e inicia com a linguagem (Fronteiras do Pensamento, 2013)

Para Levy, a cibercultura é consequência do ciberespaço

[Antes de explorar a noção de cibercultura, abro este parênteses para dialogarmos com a noção de cultura. De um modo simplista, a cultura é produto das relações que os indivíduos de um território ou de uma comunidade estabelecem entre si.  Até ao aparecimento do ciberespaço, as relações que as pessoas estabeleciam entre si, a socialização, estavam de um modo geral circunscritas ao território-espaço que as pessoas ocupavam. Assim, a cultura era, quase exclusivamente, resultado dos territórios e das comunidades, através dos processos de socialização estabelecidos pelas pessoas que faziam parte desses espaços.

De certa forma poderíamos, desde já, questionar-nos: Então a cibercultura não é nem mais, nem menos, do que a cultura produzida no ciberespaço?

Responder “sim” ou “não” seria desconsiderar todo o processo e produto que distingue a cibercultura de, sem deixar de ser, cultura.]

 

Como vínhamos a refletir, para Levy, a cibercultura é consequência do ciberespaço     …que não só alterou profundamente o modo como as pessoas estabelecem relações entre si, como está na origem de novas formas de socialização. Deste modo o autor 1999, p. 23) esclarece que a cibercultura é distinguida pelo conjunto de técnicas materiais e intelectuais, de experiências, de atitudes, de valores, de modos de pensar e de valores que se desenvolvem simultaneamente com o “aumento” do ciberespaço. 

É a participação no ciberespaço que liga as pessoas umas às outras, como refere Lévy (1999, p. 119) liga as comunidades umas às outras e a si mesmas, elimina monopólios de difusão e permite que cada pessoa transmita a quem estiver envolvido ou interessado, originando um novo tipo socialização. Nesse sentido, a cibercultura expressa para Lévy (1999, p. 247) uma transformação fundamental da própria essência da cultura.

São diversos os exemplos de cibercultura que fazem cada vez mais parte do quotidiano de grande parte da população muldial. Destaco 3 exemplos que considero estarem em desenvolvimento exponencial:

  • As redes sociais como o facebook, o twitter, o Instagram, LinkedIn, o Google+, que com um crescente contínuo nos últimos anos, fazem parte do dia a dia das pessoas. Nas redes sociais as pessoas socializam de diversas formas, sem que seja necessário estarem no mesmo espaço físico.
  • As comunidades de aprendizagem online que florescente cada vez mais.
  •  Os jogos online, que fazem parte do entretenimento de cada vez mais jovens e adultos.

A área da educação é também refletida por Lévy, que aponta os futuros sistemas de educação e de formação na cibercultura devem ser refletivos numa “análise prévia da mutação contemporânea da relação com o saber” (1999, p. 157).  O autor (1999, p. 172) considera que a utilização exponencial das tecnologias digitais e das redes de comunicação interativa provoca e aumenta uma enorme e rápida mutação na relação com o saber.  Todas as possibilidades emergentes no ciberespaço, como a aprendizagem cooperativa, a colaboração em rede e a criação coletiva exigem uma (re)configuração no funcionamento das instituições e os modos habituais de divisão do trabalho das escolas. Com sentido ético, Lévy apela ao acompanhamento consciente da utilização das tecnologias neste processo de (re)configuração, num processo em que os papéis de alunos e professores são colocados à prova.

Neste sentido e como nos aponta Lévy (1999, p. 246) a cibercultura apresenta-se como uma solução parcial para apoiar muitos desafios, no entanto constitui em si mesma um enorme campo de desafios e de conflitos a nível global.

Referências:

Lévy, P. (1999). Cibercultura. Editora 34.

Fronteiras do Pensamento. (2013, 5 de maio). Pierre Lévy - O que é o virtual?. [Video]. YouTube.https://www.youtube.com/watch?v=sMyokl6YJ5U&feature=youtu.be

sábado, 7 de novembro de 2020

   

Educação a Distância e eLearning

Educação a Distância e eLearning – Perceções prévias

            Todas as pessoas, mesmo sem se terem debruçado de modo refletivo sobre a Educação, têm opiniões e sentem-se capazes de falar, muitas vezes com segurança, sobre este tema. Talvez esse modo de estar derive da presença constante da educação na sociedade e porque, em maior ou menor grau, a educação faz parte de quase todos os momentos da vida das pessoas.

Contemporaneamente, a Educação a Distância (EaD) não é exceção, com maior ou menor entusiasmo, as pessoas falam, opinam, discutem e refletem sobre esta “forma” de educação. Se bem que muitas vezes de forma errada ou irrefletida, de um modo geral, as pessoas associam a EaD a uma educação não presencial, bem como à utilização de internet como forma de se estabelecer a educação.

A EaD, tida para mim, até há bem pouco tempo, como “educação à distância”, é visualizada atualmente como um conceito mais amplo e com mais anos de existência. Antes de iniciar o mestrado, tinha uma visão simplista da EaD, associava a EaD apenas à modelos educativos que recorriam à internet para facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Atualmente, reconheço que a existência da EaD antecede a própria existência da internet. Assumo a EaD como o processo de ensino e aprendizagem em que o professor e o aluno se encontram separados no espaço e/ou no tempo.

Do mesmo modo, a minha perceção sobre o eLerning consistia, numa visão também simplista da aprendizagem recorrendo exclusivamente à internet como modo de comunicação, em que a comunicação entre professor e aluno, quando existia, poderia ser realizada de modo síncrono ou assíncrono.

Atualmente ainda associo estes modelos ao eLearning, mas a minha perceção não se resume apenas a isso.

Educação a Distância e eLearning – Perceções iniciais

Como estudante no Mestrado em Pedagogia, numa fase inicial, a minha visão sobre a EaD e sobre o eLerning já se alterou.

EaD é uma modalidade de ensino que se desenvolve circunstâncias especificas, o espaço e/ou o tempo de contacto entre professor e aluno não coincidem.

O aumento significativo de tecnologias, ou técnicas, de comunicação têm provocado um aumento da utilização da EaD, o que faz com que surjam diferentes modelos de ensino neste cenário de educação.

Alguns autores apontam vários modelos de EaD ao lingo da história. Um dos modelos, referidos por Belloni (2009) como a primeira geração, foi o ensino por correspondência, iniciado no século XIX com aparecimento e massificação da imprensa e das linhas férias. Nesse modelo a construção do conhecimento dependia essencialmente da autonomia do estudante.

Outro modelo, o ensino multimeios a distância, referido por Belloni (2009) como sendo a segunda geração, surgiu nos anos 60 do século XX. Neste modelo Belloni (2009, p. 56) destaca como principais meios de comunicação o papel impresso por correspondência e os programas de vídeo e áudio, difundidos por cassetes ou por antena.

Uma terceira geração, outro modelo de ensino, surge, para Belloni (2009), na última década do século XX com a existência das ferramentas web. Para a autora, este modelo possibilita uma interação personalizada. Para além deste modelo utilizar os meios de comunicação utilizados nos modelos anteriores, a autora destaca o aparecimento de “redes telemáticas com todas as suas potencialidades (banco de dados, e-mail, lista de discussão, sites etc.); CD-ROMs didáticos, de divulgação científica, cultural geral” (p. 57).

Com as caraterísticas da separação física e temporal entre estudante e professor, a EaD apela a pedagogia(s) especifica(s), e impõem a quem a planifica, desenvolve e avalia a necessidade de novas competências e novos conhecimentos.

O eLearning é comumente associado ao uso intencional de informação em rede e tecnologia de comunicação eletrónica no processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, podemos considerar o eLearning um modelo de EaD. Como a letra “e” em eLearning representa a palavra “eletrônico”, o e-learning incorporaria atividades educacionais que são realizados por indivíduos ou grupos que trabalham, online ou offline, de forma síncrona ou assíncrona via rede ou computadores autônomos ou mesmo outros dispositivos eletrônicos.

Neste sentido, o eLearning engloba, entre outros modelos de EaD, o online learning, o virtual learning, networked learning.

Belloni, M. L. (2009). Educação a Distância. São Paulo: Autores Associados.


Dois autores ligadas à educação online

José António Moreira

José António Moreira é Professor Auxiliar na Universidade Aberta Portuguesa, no Departamento de Educação e Ensino a Distância (DEED), onde é de Diretor da Delegação Regional do Porto. É Doutor em Ciências da Educação, pela Universidade de Coimbra, e Mestre em Ciências da Educação, sendo Licenciado em História da Arte. Faz parte de vários grupos de investigação, nomeadamente:

  •   na Unidade Móvel de Investigação em Estudos do Local (ELO) da Universidade Aberta, como coordenador científico;
  •  na Unidade de Desenvolvimento dos Centros Locais de Aprendizagem (da Universidade Aberta, como coordenador executivo;
  •  no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20), como investigador integrado;
  • no Grupo de Políticas e Organizações Educativas e Dinâmicas Educacionais, Universidade de Coimbra, como investigador integrado.

Conta com mais de 50 publicações em revistas especializadas e mais de 20 livros publicados, principalmente, na área da Educação Online e das Tecnologias Digitais, destacando-se nos seus trabalhos a aplicação destas áreas a cenários formais de aprendizagem.

Mais informações em: https://www.researchgate.net/profile/J_Antonio_Moreira

 

Matthew J. Koehler

Matthew J Koehler é Professor na Faculdade de Educação da Universidade Estatal do Michigan. É doutorado em Psicologia da Educação e tem como formação inicial Matemática e Ciências dos Computadores.

É mundialmente conceituado no âmbito do desenvolvimento profissional de professores nos domínios tecnológico e pedagógico, em particular graças à elaboração, juntamente com Punya Mishra, do referencial TPACK - The Technological Pedagogical Content Knowledge Framework.

Conta com mais de uma centena de publicações, em revistas internacionais especializadas, sendo de destacar diversas publicações no âmbito da formação online.

Mais informações em: https://www.researchgate.net/profile/Matthew_Koehler2


Temática III -Desenho da aprendizagem online

Práticas de desenvolvimento curricular e avaliação em Cidadania e Desenvolvimento Visualizar trabalho